quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A lenda do Guaraná (Waraná sa'awy) - Uma lenda Sateré-mawé

 A lenda do guaraná, que é um fruto nativo da minha terra e que os saterê-mawé consomem muito, até para rituais. Bom, o guaraná é uma palavra, em sateré chama-se waraná e em maraguá chama-se guaraná. Guaraná é uma palavra maraguá que significa “parecido gente”, pela lembrança do olho dele. Dizem os antigos que os animais falavam como gente, como pessoas, e não existia gente ainda, não eram criadas as pessoas, existiam apenas três irmãos, só que não eram gente, eram semi-humanos, parecido com gente.

No início eram dois homens e uma mulher, o nome do primeiro é Yakumã, o outro é Ukumã’wató, e a menina, a moça, se chamava Anhyã-muasawê. Era uma moça muito bonita, linda, e todos os animais gostariam de namorar com ela, mas só que não era permitido por que os dois irmãos eram muito ciumentos e ninguém podia chegar perto dela para conversar. Num dia, numa conversa entre os animais, a cobra disse assim:

“Olha, pessoal, eu vou conquistar Anhyã-muasawê e vou casar com ela!”

Aí todo mundo achou um absurdo, porque era impossível, os dois irmãos estavam todo o tempo lá, eram muito ciumentos e não deixavam ela sair para longe.
Mas lá um dia a Anhyã-muasawê foi passear pela floresta e, nesse momento, a cobrinha que sabia onde ela ia andar ficou lá bem pertinho esperando ela passar, e antes de ela passar, a cobrinha ficou bem no meio do caminho, se pôs bem no meio do caminho. Quando a Anhyã-muasawê passou por cima dela, aí ela rapidamente tocou no calcanhar de Anhyã-muasawê e a partir desse momento ela ficou grávida. Naquele tempo não precisava, só esse gesto fazia a gravidez. Aí ela ficou grávida e apareceu grávida na casa dela, e os irmãos dela, que não gostaram nem um pouco, quiseram saber quem era o pai e descobriram que o pai era a cobra. Ficaram muito zangados, foram para a casa da cobra, despedaçaram a cobra, voltaram lá para a moça e mandaram ela tirar o bebê, ela não quis tirar de jeito nenhum, então eles mandaram ela ir embora e ela foi embora, expulsaram ela do paraíso, nós chamamos de Nusokén.

E ela teve o nenê. Era um menino e ela deu o nome de Kahu’ê, e esse menino cresceu ouvindo as histórias da mãe dele. Soube que lá no paraíso tinha a mais bela árvore e a mais gostosa fruta, e ele queria comer: se chamava castanheira, que dava castanha. A mãe proibiu por causa dos irmãos bravos que ela tinha. Ele ainda entrou uma vez, mas foi denunciado pelos vigias. Da segunda vez, quando o menino bem alegremente ia descendo, os guardas, mais que depressa, passaram a cordinha no pescoço do menino e o menino morreu.

No grito que ele deu, a mãe dele ouviu lá longe e saiu correndo atrás, correu, correu e, quando chegou, viu o menino morto no chão com o pescoço cortado e ela não pode mais fazer nada. Ela olhou e muito triste ela disse assim:

“Meu filho, os tios de você acharam que iam parar com a tua existência assim que te matassem, mas eles estão muito enganados, porque a partir da tua morte é que vai acontecer o grande bem para toda a humanidade!”, aí ela foi, lavou o corpo da criança todinho com ervas medicinais – ela era uma pajé – lavou bem lavado e disse o seguinte:

“De agora em diante, meu filho, tu vai ser o Tuxaua (líder) dos sateré-mawé, ou seja, tu vai ser o melhor de todos, de tudo que existe na natureza”.

E falando isso, dizendo essas profecias, ela pegou o olho esquerdo do menino e foi plantar. Só que no lugar onde ela plantou era uma região de terra barrenta, e ela esperou nascer. Nasceu uma árvore, um arbusto. Ela esperou aquela planta crescer e, quando a planta cresceu, ela deu fruto, mas quando ela foi provar o fruto, ele era ruim. Aí ela deu o nome de Guaraná-Hôp, que significa guaraná falso, o falso guaraná. Ela voltou para lá e dessa vez tirou o olho direito do menino, plantou em terra preta e esperou crescer. Quando cresceu, deu um fruto bonito, com os olhos do menino. Ela provou do fruto e disse:

“Esse é o guaraná verdadeiro, Waraná Sése. Esse guaraná vai dar e ser tudo de melhor que existe em toda floresta.”

Foi assim dada a origem do guaraná.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

NOVO LIVRO DE LIA MINAPOTY

Para explicar a origem da noite segundo a concepção dos indios Maraguá e mostrar a diversidade cultural e religiosa entre os indigenas no Brasil.
Lia Minapoty soube como ninguem explicar de maneira romanceada a saga dos guerreiros maraguá em busca da noite.
Este é o primeiro livro da autora no mercado nacional, publicado pela editora Leya, uma multinacional de origem portuguesa que estendeu a mão e a alma para a potencialidade dos escritores nativos.














COM A NOITE VEIO O SONO
autora Lia Minapoty
editora: LEYA
ilustrações: Mauricio Negro
ano: 2011